sábado, 25 de novembro de 2017

Conservatória – a cidade seresteira e minha formação musical



‘A seresta está no DNA da música brasileira, inclusive da minha...’(Renato Teixeira)

Me perguntam muito como comecei na música. Minha mãe contou que quando eu era nenê cantarolava ao invés de chorar e usava o dedão do pé como microfone(risos)....

O dom veio de meus pais, seguramente, pois, o pai, embora não tocasse instrumento ou escrevesse poesia, sentia fundo como ninguém qualquer canção. A mãe era musical total, e embora também não tocasse ou cantasse, entendia de ouvir música como poucos, era afinada e sempre me ajudou a escolher repertório de meus espetáculos.Aliás, eu com 7 anos cantava em programa de rádio na minha cidade natal , Santa Rosa, com bandão de 8 músicos, backing vocals e sopros(mas ‘bah tchê’! Que tal¿).

Aliás, tenho que reconhecer que o cara que herdou mesmo os dons de nossos pais é meu irmão mais novo, Omar Franco, pois escreve letras de canções como poucos e cozinha inigualavelmente! Ah! Esqueci de dizer que minha mãe era ‘doutora’ em cozinhar bem.Dava aula de culinária e tudo.
Muito bem...Numa madrugada dessas tive uma vontade de me transportar para Conservatória-RJ, a cidade encantada da seresta que conheci numa reportagem longa(Graças a Deus) da TVE(aquela que o Sartori quer extinguir);

Ela fica a 3 horas do RJ e respira música por todos seus poros, mais especificamente a seresta...ou seja, aquelas canções antológicas que encheram a vida das pessoas nas décadas de 40 , 50 e um pouco mais.

Daí mais uma coisa interessante da minha memória musical: eu não tenho os Beatles como referência na minha música, como boa parte dos que são da minha geração, mas a minha formação vem das grandes cantoras dessas décadas de ouro da música brasileira: Ângela Maria, Elizete Cardoso, Dolores Duran, Nora Nei, Dalva de Oliveira, Maysa e, mais recentemente, as discípulas fiéis delas: Elis Regina, Marisa Monte, Clara Nunes, e outras(poucas infelizmente)...
E sabe porquê¿ Minha mãe, musical como era, ouvia direto, e eu junto, desde sua barriga, os ‘bolachões’ de 70 RPM dessas divas e dos grandes intérpretes brasileiros.
Para completar, conheci e convivi 23 anos direto com aquele que se tornaria meu mestre encarnado na arte do canto e da música, Airton Pimentel,(outro com a seresta no seu DNA). E aí terminei de me formar e me tornar a cantora que sou hoje, ainda sempre aprendendo, claro...
Então, a cidade seresteira, que respira seresta em todos seus moradores e é atração turística da serra carioca me encantou, pelo que eu vi na reportagem e pelos depoimentos do Renato Teixeira, do Cravo Albin e outros músicos da própria Conservatória...
Tudo começou com uma dupla de músicos que estudava no RJ e ia para casa nos fins de semana e tocava direto, na rua, nas casas, nos locais públicos, com muita seresta e com a característica de envolver os moradores nisso.
Aí a cidade encantou!
Hoje é ponto turístico, com excursões de pessoas que percorrem a cidade por todo o fim de semana, com pontos e espetáculos de noite e de dia, com direito a ‘Choro na Praça’ para temperar tudo!




A Camerata de Conservatória tem uma empregada doméstica, uma trabalhadora rural tocando, assim como donas de casa e atendentes das poucas lojas cantam: todo mundo está envolvido com a seresta direto!
Duas professoras estão fazendo o projeto ‘Jovem também gosta de seresta’ na praça da cidade, para crianças e jovens, ensinando as canções, passando as letras, as harmonias e ensaiando com a moçada toda semana:uma beleza!
Me apaixonei!
Isso é uma prova de que independente de governantes e verbas, a cultura está na alma do povo, pois se as pessoas deixarem fluir, as cidades poderão se tornar o que é nossa vocação como indivíduos e coletividade, com a arte sendo o tempero de uma comunidade feliz e próspera!