NÃO DÁ PARA NÃO
FALAR NOS MENINOS E NO NAUFRÁGIO DA CIVILIZAÇÃO
A
Zero de hoje chegou no horário de sempre,
lá pelas 5 horas da manhã e me pegou em orações e meditações matinais. Estarrecedora a cena que vemos na capa do
jornal e que estampou as manchetes e capas de periódicos do mundo inteiro hoje.
Sou
tia, não sou mãe, mas tenho sempre o sentimento que sou, ou poderia ser, mãe todos mais jovens que eu. Doeu na minha
alma a foto do frágil menininho turco, afogado na tentativa de imigração, com
sua família, para fugir dos horrores da disputa entre povos do oriente Médio.
A
foto é algo estarrecedoramente claro e direto, como um soco na boca do estômago,
na manchete que diz: ‘O pequeno naufrágio da civilização’. Sempre penso isso:
se não formos capazes como seres humanos de prover o sustento mais básico para
as crianças e jovens no mundo, então para que estarmos aqui?
Ainda
hoje, às 7 da manhã, um jovem foi baleado, pelas costas, pela polícia no Bairro
Santa Teresa, em Porto Alegre e morreu. A vida sendo ceifada de forma bárbara e
desumana, um fato banal e corriqueira.
Vamos
virando a rua e o dia, a página do jornal e a reportagem da TV é substituída
por um estridente comercial, ou por uma colorida propaganda de um programa cômico.
E aquilo, aquela dor cósmica e visceral vai se alojar dentro de nós, uma ferida
que vai sangrar dentro de nós, que como
raça humana, estamos cada vez mais sós e com sentimento de incapacidade diante
dos horrores dos dias atuais.
Nosso
frágil eu humano acredita que se fecharmos a porta, o problema não entrará: é
com os outros, é com o vizinho, mas comigo não! E eu vou escondendo a cabeça na
areia como faz o avestruz.
Não!
Nosso
quintal, nosso jardim, do condomínio claro, quando temos, grita por socorro.
Atônitos,
percebemos claramente que não adianta virar a cara e a esquina, ou a página do
jornal: a coisa está em todo lugar dizendo: vamos resolver isso!
Assim
vejo a questão da imigração e a questão de Porto Alegre, no paralelo onde os
meninos, na sua juventude, foram mortos.
Ou
a gente senta, como países e como sociedade e, em diálogo com governo e polícia,
esquadrinhamos um planejamento de resolver essas questões do êxodo moderno e da
falta da segurança, que viram violência instantânea diante de nossos olhos. E não é filme. É ao
vivo e a cores e não tem comercial.
Não
dá mais para dizer que não temos nada a ver com isso. Alemanha e União Europeia
são os locais mais procurados porque estão mais perto, mas não nos enganemos,
pois logo, logo a América do Sul e as outras Américas também vão começar a
receber escombros de povos, de famílias e seres humanos fugindo dos horrores de seus países e
continentes.
E
se a gente não observar que todos somos um só: e não é só na música ‘Imagine’,
do John Lennon, mas é fato: pois há uma interligação da dor e da alegria do
outro em mim. Tudo reflete em tudo.
E,
partindo desse pressuposto, nos envolvermos numa mobilização global que começa
na nossa casa e na nossa aldeia, na nossa Porto Alegre, onde jovens morrem, dia
após dia, ante tantas falhas, que podem ser corrigidas, se todos estivermos
dispostos a resolver.
Tudo
isso pra que nossa civilização não naufrague na zona de conforto.
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